Costumo dizer: "Portugueses e brasileiros separados... pela Língua Portuguesa". Andei lendo na Net textos acerca da Língua Brasileira:
http://lingua-brasileira.blogspot.com/
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252005000200016&script=sci_arttext
Há um divórcio muito profundo entre o que ensaiam os filólogos tradicionalistas e lusófilos e o que pensam e praticam os escritores. Os primeiros fazem finca-pé na defesa das normas lusas. Perguntei certa feita a um professor se ele considerava erro, numa prova, o aluno escrever - eu vou lhe visitar hoje. Imediatamente respondeu que sim. E se seu filho, na mesa, disser coisa semelhante, que fará? Ele embatucou.
Quando, 21 anos depois de ter vindo do Brasil, lá voltei pela primeira vez, corri livrarias para comprar manuais de ensino do português, gramáticas e traduções em português de obras de linguística e comunicação. Nas gramáticas fui encontrar um conceito de norma-padrão que me espantou. Cheguei a ler uma versão do uso dos pronomes ditos clíticos que não deixava de ser uma boa descrição das regras seguidas no português de Portugal. Era uma gramática pedagógica, ou tradicional, senão normativa. Nessas gramáticas escolares, para meu espanto, a norma era ainda a norma lusa. Eriçaram-se-me os cabelos. Aquelas gramáticas, a serem seguidas, poriam um brasileiro, talvez um estudante aplicado, a dizer "eriçaram-se-me" os cabelos. Então e a próclise brasileira? Interroguei-me acerca daquele conceito de norma-padrão tão arredio da realidade linguística que escutava à minha volta. Via o meu irmão incapaz de pronunciar "pneu", insistindo no "pineu". E através dele compreendi o "show" que dei numa papelaria, vinte anos antes, ao pedir “spit fix”, que me saiu qualquer coisa mais assobiada do que falada. A norma viva que verificava à minha volta, no centro de São Paulo, nada tinha a ver com a norma estipulada nas gramáticas escolares. E tinham sido escritas por professores brasileiros! Foi assim que fiquei alertado para esse conceito peculiar, a meu ver, de norma-padrão. Não o conjunto de regras efectivamente seguidas na comunidade, mas um ideal linguístico extraído da história da língua, dos escritores tomados como modelo, da língua artificial que se convencionou ser a língua portuguesa “correcta”. E que no Brasil, tal como em Portugal era a mesma! Depois, de volta a Portugal, fui-me apercebendo que também cá os nossos eruditos têm o mesmo conceito de norma-padrão, o qual nada tem a ver com o que efectivamente se diz. Todos falamos mal o português. A norma-padrão não é falada em lado nenhum. É uma utopia. Concluí que eu é que não percebi nada das aulas na faculdade quando falámos em estudos normativos, descritivos e explicativos da língua. Não percebi nada do conceito de gramática do Chomsky. Até passou pela minha cabeça a possibilidade de se fazer uma descrição, senão uma explicação da norma! Misturei tudo. A norma-padrão como mais uma variedade da língua da qual seria possível fazer a descrição? “Mas que negócio é esse?”, retornei ao brasileirismo da infância. Quase que parto para um discurso inspirado em Martin Luther King: “Eu tive um sonho. Sonhei com um estudo não normativo da norma. Um estudo atento ao que efectivamente se diz, atento às regras efectivamente seguidas por aqueles que são tidos como os bem-falantes do português, quer em Portugal quer em São Paulo, Rio ou Luanda”. Temos um idioma peculiar, onde co-existem várias normas-padrão. Pessoalmente, horripila-me que alguém se lembre de falar em Língua Brasileira. A mim parece-me mais o português dos trópicos. Embora reconheça que não consegui compreender a Tereza. E se percebi, não gostei. Pois. "Portugueses e brasileiros separados... pela Língua Portuguesa"
Mas eu tenho uma atitude inclusiva. Estou desconfiado que António José Saraiva tinha razão em dizer que o Português e o Espanhol eram dois dialectos da mesma língua ibérica!

Questões de português e de comunicação
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