Questões de português e de comunicação

terça-feira, julho 03, 2007

Demais/de mais mais uma vez.

"Demais"/"de mais" - já andei às voltas com as formas livres, presas e dependentes para tentar estabelecer critérios objectivos que nos permitissem distinguir as palavras das locuções e dos encontros vocabulares fortuitos, mas ainda não acabei esse trabalho. "Gosto demais de mais açúcar no café" parece-me preferível a "gosto de mais de mais açúcar no café". Em suma, há um encontro fortuito de "de" com "mais", por vezes, veja-se o segundo “de mais” na frase. E já agora, acho que é o caso do “de menos”. Quando temos “de menos” é um encontro fortuito de “de” com “menos”:”Gosto de menos açúcar no café”. Ou seja, não existe uma locução “de menos”. Assim, quando se argumenta que tem que ser “de mais” por se opor a “de menos” está a dizer-se que tem que ser uma locução por se opor a um encontro fortuito. Então o problema está em saber se existe ou não uma locução “de mais” preferível a uma só palavra “demais”. Temos “devagar”, “depressa”, mas “de repente”. Será só para evitar o dobrar do “r” (“derrepente”)? Se disser “com vagar” ou “com pressa”, escrevo separado, no entanto isso não é argumento para separar o “depressa”. Será só porque Rebelo Gonçalves estabeleceu que assim devia ser? Antes de Rebelo Gonçalves assim o ter determinado era “de pressa” e “de vagar”. Afinal o que é uma locução? E não estou a pôr a questão meramente em termos ortográficos, mas sim linguísticos. Se existir uma locução “de mais” na língua deveremos escrever separado, se não existir essa locução, deveremos escrever numa só palavra o que será uma só palavra. Mas já começo a ficar desconfiado que nós chamamos "locução" a qualquer coisa que escrevemos separado porque nos repugna juntar, mas que a língua já juntou. Por outras palavras: a locução só existe na escrita. Chama-se locução porque escrevemos separado. "De repente" é locução porque escrevemos em duas palavras. E só escrevemos em duas palavras porque ainda não resolvemos a questão dos dois "erres": "derrepente". "Depressa" ou "devagar" não levantam problemas a nível da grafia. "Com certeza" já é outro caso. Não se trata de uma locução, mas de um encontro fortuito de "com" com "certeza". O meu problema actual é a ontologia das locuções... Não acredito em bruxas, pero que las hay, las hay!

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