Questões de português e de comunicação

terça-feira, junho 05, 2007

Intuição linguística

Gosto de usar a intuição. Ainda acredito na concepção da competência linguística do Chomsky. Acredito que haja um falante nativo ideal que saiba o português padrão, ou seja, que o português padrão exista mesmo e não seja uma pura abstracção retirada dos grandes escritores ou de estádios ultrapassados da língua. Acho que existe mesmo na sociedade uma norma padrão e que é possível perante um enunciado dizer-se se ele está de acordo com as regras da língua padrão ou não. E não se trata de gramática normativa, trata-se de fazer a descrição de uma variedade específica que acontece ser a norma padrão. Um estudo descritivo ou até mesmo explicativo da norma. Já vou no meu terceiro sotaque e sei que não sou alheio a interferências linguísticas. Já me aconteceu os alunos reclamarem do modo como pronunciei “subsistência” e acabei por apurar que o meu “z” e a minha total incapacidade em pronunciar o “s” como “s” afinal vinham do Brasil e do “i” epentético que os brasileiros usam ( o “s” fica entre vogais, subisistência”) e que eu já não uso. Enfim, já não é um sotaque brasileiro, mas ainda não é totalmente português (o “z” ainda permanece). Assim, com algumas ressalvas, considero-me um falante da norma padrão, mas da norma viva, seguida de modo implícito. Interessa-me como as pessoas efectivamente falam à minha volta. A norma padrão que se verifica concretamente. Ora, esta norma padrão nem sempre se reduz ao que ficou registado nos dicionários e nas gramáticas. Os dicionários e as gramáticas estão sempre atrasados.
A CTC parece não pensar assim. Contra a língua viva, se preciso for, faz finca-pé na letra das obras de referência.
Se na 29 a resposta certa for a c), temos um exemplo do que digo. A norma padrão já não tem a 2ª pessoa do plural, a CTC ressuscita-a. Existe uma regra que diz que com o “não” o pronome vem antes do verbo. Existe ainda outra regra que diz que o auxiliar atrai o pronome. Por melhor que nos soe “não fosse entornar-se”, temo (já entreguei o teste) que vão recorrer às regras, como recorreram no caso de “merecer/ pervaricarem”. O “pervaricarem “ prova que o infinito flexionado não foi visto como erro, mas posteriormente, veio à baila a regra do mesmo sujeito ou de sujeito diferente para seleccionar um ou outro dos infinitivos e assim foi feito.

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